quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Radar do Vinho: Casa da Passarella, estórias com muita história

A Casa da Passarella é uma propriedade histórica da região do Dão, cuja origem remonta ao final do século XIX. São 100 hectares, dos quais 45 hectares são de vinha, localizados na frescura do sopé da Serra da Estrela, e cheios de "estórias" para contar. Ao longo do século XX viveu uma época de Ouro, com testemunhos de personagens fantásticos que por lá passaram e que moldaram o "lugar da Passarella" e contribuiram para o misticismo do local. Nomes lendários da enologia portuguesa como Manuel Pato ou Alberto Vilhena, passaram e foram parte integrante do projeto. O primeiro registo de engarrafamento data de 1893 e encontra-se exposto no centro de interpretação - Villa Oliveira, agora a referência de topo da Passarella. Assistiu-se depois a um declínio que foi interrompido em 2008 com o renascer do projeto por novos proprietários e a entrada para a enologia de Paulo Nunes, primeiro como enólogo consultor, depois como residente (a partir de 2012).

Paulo Nunes é uma das faces mais visiveis do projeto e um dos principais responsáveis pelo crescimento dos vinhos da Passarella. Ao longo do tempo tem sabiamente respeitado a herança do local e o saber das pessoas, potenciando o que de melhor a Casa da Passarella tem para oferecer: estórias de uma história rica, por trás de cada vinho e que é parte integrante do mesmo no perfil: O blend de vinhas com diferentes exposições, que transformam os vinhos num reflexo do terroir.

Fomos recebidos pelo Paulo Nunes que nos foi mostrando as vinhas e as diferenças entre as mesmas epartilhando connosco várias estórias de um passado riquissimo. Quase que se sentia no ar essa riqueza histórica, em cada metro do "lugar da Passarella". Depois foi a visita à adega onde modernas cubas de Inox convivem com cubas de cimento; onde barricas de carvalho convivem com toneis; onde milhares de garrafas repousam para dar lugar às várias referências da casa.

De seguida, Paulo Nunes tinha preparado para nós uma sublime prova. Perdão, aliás 3 provas verticais: Encruzado, Vinhas Velhas e Fugitivo. Uau! Os Encruzados de 2011 a 2015 a mostrarem uma frescura irrepreensível da casta. Vinhos gastronómicos e com muito para dar, com muita acidez. Foi curioso perceber a evolução desta casta, passando por registos mais florais, ou mais frutados, ou até por momentos "+ flat", consoante o momento / ano. Altamente didáctico!


Os vinhas velhas tinto de 2008 a 2012, com o 2008 a mostrar uma forma brutal. Todos elegantes e ainda muito jovens. E pensar que estes vinhos quando saíram para o mercado eram uma pechincha nas grandes superfícies. Finalmente, a gama Fugitivo, vinhos "fora do baralho". Paulo Nunes procura produtores locais de vinhas centenárias ou com métodos de vinificação diferentes dos da casa para lançar algo verdadeiramente diferente, todos os anos. Provamos o Fugitivo tinto feito de vinhas centenárias dos anos de 2012 e 2013, respeitando a forma de produção do "produtor" local e o branco de curtimenta de 2015, um branco feito à moda antiga, como se de um tinto de tratasse. As três referências fabulosas, sendo o tinto extremamente viciante e puro veludo , enquanto  o branco untuoso, com uma acidez brutal e uma boca interminável. Excepcional. 

Depois desta prova memorável, fomos almoçar umas entradinhas de enchidos muito saborosos e um fabuloso cabrito assado em forno a lenha, acompanhado é claro dos topos de gama Villa Oliveira.

 


Fiquei completamente rendido ao Villa Oliveira Vinha das Pedras Altas, a expressão de uma vinha. Que grande vinho cheio de elegância, finesse e vigor. Fiquei fã. Acompanhado bem de perto por um igualmente excelente Villa Oliveira Touriga Nacional. Ou o Villa Oliveira Encruzado que tão bem acompanhou a sobremesa. Que branco...! Que vinhos!


Terminamos o dia (longo mas muito prazeroso) com uma visita à vinha centenária e prova de barricas na Adega entre produtos acabados e outros por acabar, em inox, barrica ou Tonel, sempre com uma paixão contagiante e enorme disponibilidade de Paulo Nunes, verdadeiro embaixador do projeto. Obrigado Paulo pela fantástica visita e parabéns pelo trabalho desenvolvido. 

Não há dúvida que a Casa da Passarella honra e bem o passado, presente e seguramente futuro da região do Dão.

Fotos cortesia de Luis Pádua

Sérgio Lopes

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