sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Opinião: Os Bagófilos

No nosso país poucas castas despertam tantas emoções como a Baga. Existem alguns enófilos que não percebem o fascínio que esta casta exerceu, e continua a exercer, sobre muitos outros que, simplesmente, a adoram. De facto, a Baga, quando jovem, é difícil e frequentemente apresenta tantos taninos que fazem qualquer um lançar uma série de esgares muito feios, tal é a sensação na boca. A elevada acidez associada à Baga, principalmente àquela oriunda da Bairrada, também afasta o consumir em geral que pretende um vinho mais adocicado e redondo para acompanhar as refeições. Estes dois fatores associados tendem a delinear uma imagem um pouco negativa da casta.

Vinhos do evento Bairrada 3 vindimas de excelência
No entanto, para os amantes da Baga nada disto os detém. Eles sabem que o fator tempo é decisivo. O ato de guardar as garrafas por 10, 15 ou mais anos faz parte de uma longa espera que culminará na degustação de um vinho que, provavelmente, será sumptuoso e inigualável. A maioria dos enófilos guardam histórias de um amigo “bagófilo” que, nas prateleiras dos supermercados e das garrafeiras onde está escrita a palavra Bairrada, afasta as primeiras garrafas da fila em busca de uma ou outra muito mais antiga que, eventualmente, terá ficado esquecida.

Os fãs da Baga são capazes de cometer absolutas loucuras, aos olhos do comum dos mortais, para obter uma garrafa desta casta. Os “Bagófilos” apresentam uma incansável capacidade para fazerem centenas de quilómetros só para comprar um exemplar de um determinado ano ou produtor. Nos leilões são capazes de disputar um lote de garrafas até ao bater do martelo só porque este era constituído por algumas garrafas da casta com dezenas de anos.

Mesmo depois de esgotado o conteúdo de uma garrafa, o “Bagófilo” é capaz de guardar indefinidamente o recipiente como recordação. É comum preservarem, por exemplo: um Gonçalves Faria Especial Tonel 5 de 1990 ; um Frei João dos anos 60; a primeira colheita de Luís Pato; um Casa de Saima dos anos 80 ou 90; a primeira garrafa dos “Baga Friends”; um Buçaco antigo, entre outros.

Os “bagófilos” têm nas suas garrafeiras (termo lato que pode significar a superfície que fica por baixo da cama ou outro espaço mais ou menos adequado para o longo estágio a que a casta obriga) dezenas de garrafas de produtores que guardam religiosamente.

Se, por acaso, um dia tiverem uma dúvida sobre a casta basta perguntar a um “Bagófilo” para ficarem esclarecidos e informados sobre quase tudo: produtores de referência, anos de excelência, solos argilo-calcários, Ancas, Aguim, Cantanhede, Cordinhã, Ourentã, São Lourenço do Bairro, Baga com e sem engaço, capacidade de envelhecimento da casta, Gonçalves Faria, Dores Simões, plasticidade da Baga, Buçaco, dinastia Pato, grupo dos oito, toneis preferidos por produtor, armazenistas do passado, Frei João, Marquês de Pombal, etc.

Em suma, o “Bagófilo” é um verdeiro apaixonado pela casta Baga e por tudo o que a ela está relacionada.

Recentemente, na Bairrada ocorreram dois eventos, no mesmo dia, que fariam, a qualquer apaixonado pela casta Baga, perder a cabeça: a prova “Bairrada – Três vindimas de excelência: 1991, 2001 e 2011” e o jantar vínico com os “Baga Friends”.

BAGA Friends

Bairrada – Três vindimas de excelência: 1991, 2001 e 2011

No primeiro evento, que durou mais de duas horas, desfilaram vinhos há muito fora do circuito comercial, verdadeiras preciosidades, muito procuradas por qualquer conhecedor: Sidónio de Sousa Reserva 1991; Quinta das Bágeiras Garrafeira 1991; Adega Cooperativa de Cantanhede Confirmado 1991; Casa de Saima Garrafeira 1991; Quinta de Baixo Garrafeira 1991; Casa de Saima Garrafeira 2001; Sidónio de Sousa Reserva 2001; Luís Pato Vinha Barrosa 2001; Quinta das Bágeiras Garrafeira 2001; Casa de Saima Grande Reserva 2011; Sidónio de Sousa Garrafeira 2011; Kompassus Private Selection 2011; Quinta das Bágeiras Garrafeira 2011 e Luís Pato Vinha Barrosa 2011.

Jantar vínico com os “Baga Friends”.

A quem restou fôlego, reserva e pé ligeiro ainda ia a tempo de participar no jantar vínico “Baga Friends” que decorreu na adega do produtor Luís Pato. Aqui ocorreu um evento muito concorrido (esgotou no próprio dia em que foi anunciado), com ementa elaborada por Carlos Fernandes, “chef” no restaurante Rei dos Leitões.

No jantar foram bebidos os vinhos Luís Pato Vinha Pan 2005; Quinta da Vacariça Garrafeira 2008; Sidónio de Sousa Garrafeira 2009; Quinta das Bágeiras Garrafeira 2011; Baga Friends 2011 magnum (foram bebidas as primeiras garrafas de um total de 80); Buçaco Reservado 2013; Filipa Pato Nossa 2013 e Niepoort Poeirinho 2013.

Antes de terminar o jantar foram ainda bebidos os vinhos Buçaco 2001 e Quinta do Ribeirinho Pé Franco 2001 em magnum!

Não vale a pena acrescentar mais nada, foi um dia perfeito para qualquer “Bagófilo”.

Este dia ficará na minha memória para sempre.



Paulo Pimenta (Wine & Stuff)

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